Este texto forma parte del libro
Memorias de Economia
de Luis Gonzaga da Sousa
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A QUESTÃO DA LOCALIZAÇÃO INDUSTRIAL

 

 

 

Para implantação de indústrias, ou fábricas que objetivem beneficiamento de produção in natura; quer dizer, efetivar um processo de modificação de um produto que esteja na fase agrícola para a fase industrial, ou como é comumente chamado de produção beneficiada, ou transformada. Este processo tem acontecido em quase todos os países, ou regiões que tem direcionado sua atividade para a produção de novas produções, criando novas aptidões de consumo e diversificando a produção de produtos necessários, ou supérfluos da economia. A fase da diversificação da produção da economia, pode-se dizer, adveio com a "Revolução Industrial" do século impulsionador do sistema de transformação industrial, isto é, o século XVIII, que acelerou o processo de acumulação e concentração numa estrutura oligopolista.

Para uma empresa, ou uma fábrica que seja implantada numa determinada localidade é necessário que se observem alguns critérios de fundamental importância nos princípios de localização industrial, quais sejam: um estudo sobre a disponibilidade de mão-de-obra e de matérias-primas para serem transformados em um outro produto final e/ou intermediário; em seguida, faz-se um estudo sobre os aspectos de infra-estrutura para verificação do surgimento ou não, de economias ou deseconomias de escala; depois, verifica-se a disponibilidade de demanda para a efetivação da produção; pois, o escoamento do produto gerado tem que ter um destino final; finalmente, é preciso que se analisem as disponibilidades de financiamento para que toda aquela atividade seja viável, ao longo de algum tempo.

Quanto ao primeiro item a ser analisado, quer dizer, ao problema da disponibilidade de mão-de-obra e de matérias-primas, na implantação de uma fábrica, é fundamental um estudo meticuloso sobre o que existe de trabalho qualificado ou não, e matérias-primas disponíveis. Isto significa dizer, averiguar o número de desempregados que existes, conjuntamente com sua qualificação profissional, bem como o nível de competição entre eles para que a nova fábrica que deverá ser implantada, seja favorecida pelas economias geradas pela competição entre os trabalhadores, própria do sistema capitalista. Do mesmo modo, a investigação será efetivada quanto a disponibilidade de matérias-primas para que o projeto seja viável; pois, uma indústria implantada próxima à fonte de matérias-primas, as facilidades são bem maiores.

No que diz respeito à indústria que procure priorizar a mão-de-obra pode se observar que este tipo de fábrica trabalha com processo intensivo em mão-de-obra; pois, neste sentido discorre HOLANDA[1] (1963) que

A mão-de-obra, por exemplo, é importante nas indústrias que se dizem orientadas para a mão-de-obra e que se caracterizam por: a) terem uma alta percentagem de ordenados e salários nos custos totais; b) dependerem em maior grau de mão-de-obra especializada; c) produzirem artigos de valor unitário relativamente alto, em função do que a incidência dos custos de transportes no valor do produto final é relativamente pequena.

Todavia, em alguns casos, a mão-de-obra não é o essencial, pelo tipo de atividade que está sendo desenvolvida; mas, é necessária na atividade econômica

Mas, já pelo lado da exigência das matérias-primas na atividade industrial, esta é imprescindível em qualquer circunstância, tendo em vista que sem o material a ser transformado, não existem condições de surgirem novos produtos, quer sejam industrializados ou não. Contudo, HOLANDA[2] (1985) explica que

É interessante notar neste caso que muitas vezes não é o suprimento de matérias-primas que condiciona a localização, mas esta que determina aquele: é o que geralmente ocorre com a indústria de laticínios, cuja instalação em determinada localidade estimula sempre o aumento da produção de leite, por criar-lhe mercado estável.

Quando não existem matérias-primas na área da implantação industrial fica muito difícil de se localizar uma indústria de qualquer tipo, mesmo a mais sofisticada possível.

Para um projeto de implantação industrial é imprescindível o aspecto de infra-estrutura, tais como: existência de energia elétrica, água e esgotos já implantados, serviços telefônicos na área, via de acesso ao local de produção, bem como aos pontos de escoamento da produção e algumas outras formas de gerar economias de escala na implantação industrial. Estas são as facilidades iniciais para que se possa dotar o empreendimento industrial do mínimo necessário ao desenvolvimento do projeto de implantação, ou até de expansão da atividade econômica. É um tipo de incentivo que já deve ter na localidade, para que o empresário se sinta incentivado em explorar tal atividade; pois, sem este mínimo, não há para que haja interesse em dinamizar tal tipo de atividade participativa na economia.

Um outro fator fundamental na implantação de um projeto industrial, ou na implantação de uma indústria é um levantamento sobre a demanda pelo produto; pois, faze-se necessário um estudo na locação industrial para saber se existe demanda suficientemente disponível para suportar aquele produto, ou produtos que vão ser gerados naquele ambiente produtivo. O estudo de demanda deve iniciar pela qualificação de que tipo de demanda deverá ser suprido, tal como: a classe média, a classe alta, ou a classe baixa, tendo em vista que o poder aquisitivo da população, ou da comunidade é de excepcional importância na determinação da localização industrial. Não havendo demanda suficiente na localidade fica difícil de se instalar uma indústria naquelas proximidades; pois, se produzir num local e transportar para outro, implica custos adicionais e muitas vezes não compensa.

É verdade também que, em algumas ocasiões se cria demanda, pelos meios de comunicação, tais como: jornais, televisão, rádios, out-doors, amostras grátis, processo de experimentação e alguns outros que levem o consumidor a passar optar por um produto novo. Desta feita, deve-se deixar claro que estes meios não fazem parte de uma filosofia da localização industrial tradicional; mas, instrumentos modernos a serviço de uma exploração capitalista que, sobre qualquer condição, implanta sua indústria para poder usufruir algum outro benefício que o Estado, ou Município lhe oferece. Os benefícios concedidos por órgão federal, estadual e municipal dizem respeito a isenção de imposto de renda, imposto sobre produtos industrializados, imposto sobre circulação de mercadorias e serviços e muitos outros que existem.

Pois, bem! a princípio, não se deve levar em consideração, em primeira instância estes fatores. De início, deve-se analisar o processo de implantação de uma indústria pelo sistema clássico de que haja um enquadramento das condições locais, onde se quer implantar uma indústria com os referenciais teóricos que se deve ter estudado no processo de implantação. Depois de averiguados todos estes fatores necessários à implantação industrial, é que se buscam os subsídios políticos, ou os incentivos que são próprios para chamar a atenção de quem quer expandir ou iniciar a sua produção. Estes estudos são necessários e suficientes para que não haja desperdícios na implantação de uma determinada fábrica, tal como falências que causam problemas sociais de alto volume, ou altos custos sociais.

A prática da localização industrial no mundo moderno, em especial, nos países do terceiro mundo, não é, de forma alguma, qualquer instrumento de implantação de fábricas, prontas para produzir os bens e serviços de que a sociedade necessita; mas, toda uma maneira especial de se localizar uma empresa em uma determinada região, ou Município. O que se conta nesta hora, para que uma empresa se localize em um determinado lugar, não é somente a questão de demanda, de financiamentos, de disponibilidades de fatores imprescindíveis ao bom funcionamento de uma indústria; mas, a amizade pessoal tem uma função primordial no processo de localização, pelo menos em regiões pobres isto é muito comum. Desta forma, relegam-se de imediato os pressupostos científicos que conduzem a um trabalho racional e eficaz.

Dentro destes prismas, observa-se um grande número de problemas que estão surgindo em diversas economias já alocadas; pois, a meta principal de quem se instala em uma determinada localidade por amizade pessoal, ou buscando se locupletar com subsídios governamentais e/ou incentivos de Estado, acaba, mais cedo ou mais tarde, caindo na falência, acusando problemas maiores do que existiam antes da execução de tal projeto que se pode dizer, ser ambicioso. Neste ponto de vista, os despilfarros técnicos e econômicos tornam-se maiores, com um grau de dificuldade bem mais complexo para se ter uma breve solução, implicando, no mais das vezes, em forte colaborador para os desajustamentos da economia como um todo, causando inflação, desemprego, decrescimento, convulsão social, e muitas outras coisas mais.

            Em conclusão, é preciso que não deixem de levar em consideração os aspectos econômicos na implantação industrial, porque os sistemas políticos, quando não bem encaminhado, deixam a questão mais difícil de solução. O aparato político é sério e necessário; entretanto, a solidez teórica é fundamental para verificar a viabilidade econômica de qualquer empreendimento econômico que seja eficaz, e cause maiores transtornos para o sistema como um todo. Não se deve acreditar na implantação de uma indústria que resolveu implantar numa localidade por amizades pessoais e não por estudo sério de localização. No entanto, isto é importante; mas, não é necessário que aconteça desta maneira, sob pena de toda uma estrutura se arruinar tão facilmente, como comprovadamente tem acontecido; contudo, é preciso fazer com que isto não aconteça mais, e somente a cientificidade prevaleça.


 

[1] HOLANDA, Nilson. Planejamento e Projetos. Fortaleza, Edições UFC, 1983, p. 203.

[2] HOLANDA, Nilson. Planejamento e Projetos. Fortaleza, Edições UFC, 1983, p. 205.