Este texto forma parte del libro
Memorias de Economia
de Luis Gonzaga da Sousa
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AVALIAÇÃO DO PLANO REAL

 

 

 

O Plano Real completa um ano. Não se tem uma economia plenamente ajustada; inegavelmente, com certeza alguma coisa melhorou. O Plano Real tinha no seu início, três objetivos fundamentais e que foram lentamente sendo postos em prática. Primeiro tentou-se equilibrar as contas nacionais; segundo, implantou-se a Unidade Referencial de Valor (URV); e, terceiro, criou-se o Real, moeda que substituiria o Cruzeiro Novo, que não segurou a inflação. Estes foram elementos que participaram do programa de estabilização do governo, iniciado pelo Presidente Itamar Franco, quando o Ministro do Planejamento era Fernando Henrique Cardoso que, como Presidente, está dando continuidade com muita severidade, ao seu desejo de construir um Brasil melhor para todos, mesmo que seja com sacrifícios.

Ao se falar no primeiro tópico, que é o equilíbrio das contas governamentais; isto é, os gastos do governo serem iguais às receitas que o governo obtém, é uma questão muito complicada para se dizer que esta meta foi cumprida e é um problema sanado pela dificuldade de dados que comprove. Em verdade, o que se tem de concreto, é que, aqui e acolá, o Presidente emite medida provisória para conseguir recursos para sanar a economia que precisa de verbas para sustentar a questão da saúde, de aposentados e pensionistas e outros mais fortes. Tem-se também o caso da conversa do Supremo Tribunal do Trabalho com o Presidente da República com vistas a não conceder ganhos judiciais a funcionários públicos, a causas com probabilidade de êxito, e que não teriam mais direitos por conta do Plano Real.

Será que na verdade, conseguiu-se o ajustamento das contas governamentais a pretexto de tanta imposição das autoridades maiores em nome de um Plano que não resolve nada de econômico, apenas administra ou normatiza uma situação de anarquia e deseducação, quanto aos vícios da desorganização. Desorganização porque se criou uma classe de agiotas clandestinos ou não, maltratando os pobres e a classe média, com ganho extorsivo de uma taxa de juros fora da realidade e que são forçados a pagar por conta de um empobrecimento inesperado. Não se pode ter contas ajustadas por força da justiça, ou por uma imposição governamental, cuja economia se desenvolve independentemente de quem quer que seja; mas, pela inter-relação das forças da oferta e da procura, bem como os usos e costumes da sociedade.

Não há como se ter conta governamental ajustada, cujos governos municipais e estaduais são filhos da desorganização e netos obedientes do regime militar, que não sabem o que gastam; entretanto, majoram sempre o que ganham em cima dos consumidores de serviços do estado em termos de impostos e taxas. Não se viu nenhuma medida que visasse cortes nos gastos do governo, não somente no Federal; mas, nos Estados, e nos Municípios, que também têm sua parcela de inflação e desajuste na economia por conta da malversação da coisa pública. Sem nenhuma medida forte neste sentido, não se conseguiria uma estabilização, onde todos arcariam com o mesmo ônus na perda de bem-estar que já comprovadamente só quem tem feito seu pagamento até hoje, e vai perdurar por muito tempo, é a classe média que se inferioriza.

Algum tempo depois da medida que teria como objetivo o ajuste das contas governamentais, surgiu a implantação da Unidade Referencial de Valor que muitos chamaram de URV e o então Ministro não gostava, devido o efeito psicológico que isso pudesse trazer, como trouxe nos outros Planos. Essa medida teve alguns pontos positivos, porque tinha como objetivo maior, uma dolarização branca e que não caracterizasse tal fato; pois, aos poucos ia acabando com os especuladores e agiotas que exploravam os trabalhadores com a venda de dinheiro. Sem dúvida, este ponto teve efeitos bons que, pelo menos no curto prazo, fez recuar aqueles que emprestavam dinheiro a uma taxa altíssima, onde quem recebia o empréstimo não tinha condições de pagar num médio ou longo prazo.

A agiotagem estava num nível tão grande que até as empresas inventaram um meio de também tirar proveitos com o dinheiro alheio, isto significa dizer, um produto era vendido com lucro exorbitante e se fosse a crediário, a dívida seria ajustada com juros extorsivos e descabidos. Este método era praticado por todos os empresários do país, quer fossem grandes, médios ou pequenos, quer dizer, o comércio deixou de trabalhar com a venda de mercadoria para tirar vantagens nos débitos dos que se submetiam à compra dos produtos. Não se pode dizer estava ou era; mas, que ainda está acontecendo para aqueles que não acreditam na estabilização da economia, continuando com os mesmos hábitos de inveja e ganância nos recursos que não possuem, numa taxação elevada aos crediários e agiotamentos clandestinos.

Quem pensa que o sistema de especulação e agiotagem se acabou está muito enganado; pois, houve apenas uma parada para pensar se o governo resolveu mesmo ou não o vício do ganha fácil com os empréstimos a um pagamento muito elevado e a espera continua apostando em não dá certo o plano de estabilização. Aqueles que viveram naquele sistema apostam que ainda ele voltará e o governo ficará desmoralizado se tal fato acontecer. A verdade é que o governo tem que tomar as medidas fortes para que a volta da agiotagem não aconteça. Com relação a isto, por enquanto a população tem deixado de perder os altos custos da inflação em todos os níveis e sentidos possíveis, é que os espertalhões se aproveitam menos das dificuldades dos seres humanos que não entendem a sua real situação.

Quando estes dois pontos estavam sanados, é claro, na ótica do governo, o Senhor Presidente decretou a implantação da moeda que passa a se chamar de Real em substituição ao Cruzado Novo, que exerceu o seu papel, de moeda que deveria ter a sua estabilidade por mais tempo e isto não foi possível. Inicialmente, cada Real correspondia a um Dollar, que por muito tempo foi chamado de dolarização da economia, coisa que não é bem verdade; porém, tinha algum sentido, tendo em vista a sua paridade com a moeda americana. Com o tempo, esta moeda foi perdendo valor com complicações internacionais, ao considerar que as relações de troca existentes frente às mercadorias que deveriam ser compradas aos industriais brasileiros; pois, se os produtos domésticos já não tinham mercado exterior, agora ficou pior.

A moeda brasileira ficou forte. Sem dúvida, quer-se compreender em que sentido é importante uma moeda forte, se as importações para o Brasil aumentaram criando emprego para os filhos dos países onde essas mercadorias seriam feitas; contudo, aumentava o desemprego na nação brasileira. Aí, na verdade, entra o funcionamento da economia, quando se pode comprar lá fora, relegando a indústria nacional que caminha capenga já por bastante tempo e sem perspectivas de uma melhora no seu parque industrial que não atende a demanda nacional. Não se sabe se é proposital; todavia, o fato é que a demanda sempre é bem maior do que a oferta forçando os preços a explodirem, cuja oferta não oferece condições de um atendimento pleno aos que desejam produtos nacionais a preços acessíveis.

Com boa parte do plano de estabilização implantado; novos ajustes deveriam ir sendo implementados e não foram, devido algumas arestas existentes entre o Governo e o Congresso Nacional, por questões políticas, tanto da oposição, como daqueles que professam o dando é que se recebe. Precisa-se de uma reforma tributária; de uma reforma administrativa; e, de uma reforma financeira que, no bojo de tudo isto viria a desindexação da economia e a queda na taxa de juros, para ter-se uma produção aumentando e, consequentemente, o emprego fluindo para todos. Estes fatos não aconteceram a tempo e a economia que já vinha com dificuldades desde o regime militar, não agüentou a demora de como o governo foi dando os retoques necessários para o sucesso pleno do plano de estabilização.

Hoje, um ano de Plano Real, tem-se uma situação muito difícil para o país com um sucateamento da educação, da saúde, da situação dos aposentados e pensionistas; assim como, um desmantelamento da classe que dão sustentáculo a este país, que é a classe média, que hoje se torna pobre, com tantos planos dando errado. A falência da economia brasileira, não decorre unicamente do Plano Real; mas, de toda uma conjuntura de fatos que tem dificultado uma boa administração dos destinos econômicos sem contar que tudo isto mexeu com os costumes e hábitos dos brasileiros. A produção nacional é insuficiente à demanda interna, o desemprego se avoluma a uma taxa absurda, as dissensões sociais estão num volume gritante e os pobres que existiam, já são chamados de indigentes, porque pobre mesmo é a classe média.

Não se pode acreditar na situação de um país com cobrança de tantos impostos e taxas, com salários tão baixos, com tanta terra que pode ser produtiva, e indústrias com tecnologias não tão inferiorizadas, passem por condições que se está vendo diante de uma posição internacional, onde já é inadimplente e sem crédito. Mesmo este país ter vindo de portugueses e espanhóis, é necessário que se busque a sapiência tecnológica dos japoneses para torná-lo próspero, para entrar no primeiro mundo com acúmulo de riquezas não somente de capital físico, mas de intelectualidades ativas. Finalmente, o plano de estabilização tem seus pontos positivos; todavia, os negativos sempre superaram, devido às condições em que se encontra a população e aqueles que informam sem conhecer a realidade objetiva e subjetiva da economia e política nacionais.