Este texto forma parte del libro
Memorias de Economia
de Luis Gonzaga da Sousa
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O PLANO FERNANDO HENRIQUE CARDOSO (F.H.C.)

 

 

 

Mais uma vez, o Brasil passa por dificuldades das mais diversas possíveis, desde o seu campo político, como o social e econômico que perduram por diversos tempos e governos, e isto tem emperrado a dinâmica da economia nacional, como todo o conjunto da sociedade. As dificuldades se alastram insensivelmente tornando a situação econômica incontrolável em termos de emprego, de produção, de investimentos, de especulação e, sobretudo, alastrando o intervalo da classe inferior, nos diversos cantos do país, de Norte a Sul, de Leste a Oeste. É neste sentido, que se busca comentar a situação do Plano F.H.C., sua estrutura, sua repercussão e seus efeitos na economia e na sociedade, de maneira agregada, desde o setor agrícola, ao setor de transformação e de serviços que dão sustentáculo à economia.

Neste período, a situação nacional piorou terrivelmente, aprofundando a miséria em todos os pontos do país, com produção cada vez menor e investimentos num nível insuportável pela dinâmica de um país que precisa de crescimento sustentado e um bem-estar que a sociedade sempre sonha. Neste transcorrer, o número de falência avolumou-se absurdamente, colocando os empresários falidos no mercado informal, com prejuízos para a Nação, no que respeita aos impostos e encargos sociais necessários ao processo produtivo nacional. Foi neste tempo que se iniciou e explodiu a onda de assalto nas diversas modalidades, e os seqüestros que eram eminentemente políticos, no momento de boom da esquerda radical que causaram tantos estragos à humanidade carente de liderança séria, agora passou a ser estratégia da marginalidade.

Os Planos têm demonstrado um certo breque nos desajustes da economia, tendo em vista que o processo especulativo financeiro tem crescido a uma taxa assustadora, causando problemas nos outros setores, que são as molas propulsoras do desenvolvimento econômico. Os agentes da economia e a população em geral levados pelos ganhos fáceis dos mercados financeiros, tais como as poupanças, os títulos de renda fixa de curto e longo prazos, ou até mesmo a agiotagem informal, desviaram os recursos do setor produtivo ao improdutivo. Com isto, a economia carecia de um redirecionamento dos recursos internos que objetivem o processo produtivo, quer seja industrial, ou agrícola; pois, é somente a produção física que faz eliminar a inflação que neste momento explode.

Com o impeachment de Collor, assumiu o governo federal, Itamar Franco, pela composição de partidos majoritários no Congresso Nacional e sob a agitação dos partidos de esquerda que pensaram faturar politicamente para as próximas eleições para Presidente da República, tais como o Partido dos Trabalhadores (PT) e o Partido Democrático Trabalhista (PDT). Ainda nesta situação, estavam os estudantes que, pensando num porvir político, também faziam seus movimentos em busca de sua deputação estadual e/ou federal, como está comprovado pelos candidatos por alguns estados da Federação. Na hora do impedimento, os Deputados e Senadores presentes no Congresso Nacional votaram em nome da democracia, da honra e da dignidade do povo brasileiro e expulsaram Collor da Presidência da República, e ficaram gerindo o beneplácito modelo democrático.

Como a verdade tarda, mas não falha, o feitiço se jogou contra o feiticeiro e aqueles que tinham declarado probidade, integridade e senso de democracia, foram postos para fora do Congresso, por corrupção e formação de quadrilha; porém, quando não foram cassados, renunciaram. Neste contexto, o Presidente Itamar Franco instituiu o Plano Real, coordenado por Fernando Henrique Cardoso e o Ministério da Fazenda, que tinham três objetivos: 1) Equilíbrio das contas nacionais; 2) Implantação da Unidade Real de Valor (U.R.F.); e, finalmente, 3) Implantação do Real. Na verdade, este Plano é o mesmo que o Plano Cruzado e o Plano Collor, só que melhor estruturado e com reajustes no tempo certo, atenuando inicialmente, com a especulação financeira que era o problema maior do país.

Com esta introdução ao Plano F.H.C., verifica-se que a importância deste Plano está em que são três etapas de fundamental importância para uma boa condução da estrutura econômica do país a um resultado profícuo e salutar para a economia nacional. Sabe-se que o povo brasileiro estava muito ligado ao processo especulativo financeiro, isto é, vendendo tudo para colocar em poupança e conseguir algum recurso a mais para fazer jus ao consumismo que a mídia prega à população. Com estes recursos a mais, pode-se comprar televisor colorido, vídeo cassete, antena parabólica, carro nem que seja velho, alimentando a sua inveja e massageando o seu orgulho de ter em seu lar o supérfluo, mesmo que fosse com altas dívidas que não tivesse condições de saldá-las no longo prazo.

No que respeita ao primeiro item, quer dizer, quanto aos gastos do governo ser equilibrado, ou pelo menos, a partir deste momento, tentar equilibra-los para que o governo só gaste aquilo que arrecade, é o princípio de que não se deve gastar aquilo que não tem e daí se ajustariam os outros itens da contabilidade nacional. Isto foi importante porque não se criariam dívidas internas desnecessárias; e, foi uma etapa que teve o tempo necessário para os devidos reajustes que a economia nacional precisava para entrar em seu equilíbrio natural. Este fato decorreu devido o diferencial entre arrecadação e gastos do governo ser muito grande por uma falta de vigilância da atuação governamental na economia que se desenvolve livremente sem um controle mais eficaz da participação do governo federal.

Dado o intervalo que foi para os ajustes governamentais, a segunda etapa foi quanto à implantação de um sistema que eliminasse da mente dos agentes econômicos e da população a questão da especulação financeira que estava fortemente entranhada na mente da população. Esse era o problema mais difícil e dificilmente sairá da mente do povo brasileiro, o ganhar dinheiro fácil, porque se caracterizou uma cultura da aplicação em poupança, no mercado de títulos, ou na agiotagem informal, no caso do dinheiro para gerar mais dinheiro. Sabe-se que dinheiro tem a função única de meio de troca e de precaução para eventualidades cotidianas, que acontecem de maneira imprevista e que precisam ser sanada a contento; pois, somente a liquidez é a sua contra-partida real.

Eliminadas estas gorduras; criada nova consciência na população do país, agora se chega à última etapa que é a instituição de uma nova moeda, isto é, aquela que nasce sem vícios; mas, que ainda conviverá com a antiga, expulsando-a lentamente como a lei de Grasham indica em seus pressupostos. A nova moeda chegou e já chegou com alguns problemas que não credenciam um bom futuro para a nova moeda que é a sua pouca quantidade em circulação; todavia, os agentes econômicos conhecedores do comportamento da economia desconfiam de sua eficácia. Na verdade, a moeda chegou e continua a sua trajetória de adaptabilidade e convivência com a velha moeda, isto significa dizer, o cruzeiro real que a cada dia desaparece da economia que precisa conviver com a realidade da nova moeda plenamente.

Daí podem-se fazer diversas perguntas fundamentais para se testar a eficiência do Plano: a primeira é que, o Plano é bom? Resposta fácil e tranqüila, é que o Plano é bom. Uma outra pergunta seria, o Plano resolve a situação econômica? Dir-se-á que longo prazo, não; porque envolve outras variáveis além da financeira, isto é, as produções do setor primário e secundário; pois, sem produção não há como acabar a inflação e o Plano não contempla nesta fase. Uma outra pergunta que se pode fazer, é quanto à distância de implantação de uma fase à outra, elas foram corretas? Dir-se-á que não. Foram intervalos pequenos e não deu condições de um esquecimento de vivência com os Planos antigos que o poder econômico conhece muito bem, e paga para ver o resultado positivo deste em vigência.

Inegavelmente foi um passo. Um passo que pode ser revertido em bons resultados para a economia que necessita de um impulso forte do governo federal para que não seja engolido por quem na verdade faz a economia do dia a dia da competição e da guerra por uma participação e dominação do mercado. Os empresários estão à espera de uma atuação do governo federal que mostre a eficiência deste Plano, cuja implantação não foi eficaz, não foi eficaz para uma aceitação geral daqueles que fazem a economia complexa e viciada por quem quer ganhar volume muito grande de dinheiro. Os empresários esperam uma política séria para o setor produtivo da economia; isto quer dizer, o setor primário, com investimento subsidiando, e incentivando a agropecuária nacional, assim como o setor de transformação brasileira.

Em resumo, é imprescindível que os que fazem a política econômica do país possam tomar decisões que proporcionem mais consistência ao Plano Real, ou como denominam normalmente os intelectuais, de Plano F.H.C. que é uma maneira de homenagear o seu criador (coordenador) num determinado momento histórico. Não é preciso ter fé, mais é salutar que confie nas ações daqueles que fazem a economia nacional para que os desajustes sejam dirimidos rapidamente, para não surtirem efeitos drásticos na economia que está em convalescência. Portanto, deve-se ter na mente que não é Plano que faz a economia equilibrada; mas, é o relacionamento entre os produtores e os consumidores quem a ajusta e desajusta sob a coordenação do governo que deve orientar bem para se terem resultados positivos para tempos longos.