Este texto forma parte del libro
Memorias de Economia
de Luis Gonzaga da Sousa
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OS IMPACTOS DO PACOTE NO COMÉRCIO

 

 

 

Dentro da pauta de abertura da economia e da política brasileira, os governos têm primado por pacotes econômicos, com objetivo de tentar um ajustamento da economia doméstica frente à situação em que o país se encontra. Alguns pacotes foram lançados, com as mais eficazes medidas de equilíbrio para a economia, que neste momento, anda desajustada. Pois, os setores estruturais não caminham muito bem, tais como o agrícola, o industrial, e o de serviços. Neste pequeno artigo, pretende-se investigar os efeitos destes pacotes no setor serviços, no que diz respeito ao setor comercial, porque é lá onde se determinam os preços e a inter-relação entre as pessoas é que mais afeta o processo inflacionário, cuja dinâmica é o termômetro do sistema econômico.

Numa pequena digressão, verifica-se que o comércio vem de muito distante. Pode-se até dizer que esta atividade surgiu, com as primeiras trocas, isto significa dizer, a economia passava da fase de auto-abastecimento para uma de escambo. Com esta economia, apareceu o comércio, a troca de produtos por produtos. Nesta época não existia a moeda, apenas os produtos que deveriam ser trocados. Intercambiava-se diretamente um pelo outro, sem alguma base como medir esses bens para equivalência. Assim, trocavam-se bois por flechas, frutos por qualquer tipo de alimentação e assim era a vida dos povos que começavam a criar excedentes e buscavam nas outras comunidades, os produtos que eles não produziam.

Mais recentemente, na idade média, o comércio se intensificou com as feiras de Veneza, das índias, de Florença e de algumas regiões da Europa e Ásia. Constata-se que em Veneza, o comércio foi a principal atividade da época, como o comércio de lã, tapetes, especiarias e muitos outros produtos; porém, tudo dentro do espírito de competição e, daí, se tinha um lucro real, não aparente. O lucro que o comércio estipulava, era o lucro determinado pelo mercado propriamente dito, isto quer dizer, uma correlação de forças, que conduzia a determinação de um preço a ser cobrado. Foi dessa maneira que viveu o comércio da idade média. Buscava-se o produto, em lugares distantes para, nas feiras livres, serem negociados.

No caso do Brasil, o comércio obedeceu ao mesmo processo de evolução, entretanto, com processo inflacionário complicou esta atividade. O comércio passou a ter lucros excessivos, devido a técnica de processo de estocagem e especulação. Este processo transformou o povo brasileiro, em uma busca incessante ao enriquecimento ilícito, com remunerações abusivas sobre os produtos dos supermercados. Proliferou-se o número de mercearias, quitandas, fiteiros e muitos outros tipos de comércio. Com isto, o pequeno e o médio comércio floresceram e se sustentaram nos braços da indexação da economia. O abuso estava sendo tal forma que, nem bem o consumidor largava o produto, o funcionário da loja vinha, em seguida, e remarcava com preços majorados.

Neste processo de conturbação sugiram os pacotes, que tiveram a função de ajustar os desequilíbrios da economia comercial. Os lucros, que adviriam da formação de seus excessos pela especulação não deverão existir. Por isso os comerciantes devem viver com os lucros que o comércio proporcionar, levando-se em consideração, o mark-up estipulado à sobrevivência da atividade. O mark-up significa, margem de ganhos, colocado sobre os custos variáveis que o comerciante irá incorrer, normalmente estimado em 25%; mas, não é uma taxa fixa. Isto vai forçar a uma maior rotatividade da mercadoria no  comércio e uma maior diversificação dos produtos para que, o comerciante possa sobreviver. O preço poderá baixar; porém, numa baixa competitiva, superada pela maior rotação da produção; pois, as fontes de abastecimento, deverão forçar a uma queda nos preços para que seu produto circule mais de forma mais rápida.

Com a maior competitividade no mercado, o efeito preço entrará em evidência, devido a uma maior demanda por produtos, devido os preços serem mais baixos. Naturalmente, o efeito renda também aparecerá por causa da fuga constante do mercado especulativo em busca de um melhor e maior consumo. Isto significa que o brasileiro vai agora viver melhor. Com maior consumo, mais cuidado com a saúde e mais demanda por lazer. O consumidor nacional sai da ambição pela riqueza e cria dentro de si, o efeito demonstração. Desta forma, a economia começa a viver mais livremente; contudo, só depois que os agentes econômicos esquecerem de uma vez por todas a especulação. Assim sendo, a economia poderá caminhar com seus próprios pés; pois, enquanto este mal existir e persistir os desajustes vão continuar por longo tempo.

E quem perde com estes pacotes governamentais? Dentro da filosofia dos criadores e protagonistas desse tipo de medida, ninguém perde. Porém, dentro de espaço curto de tempo, os especuladores que fizerem vultosas compras, prevendo uma inflação muito alta, esses não perdem tudo; mas, têm suas perspectivas frustradas e, no curto prazo, seus ganhos serão reduzidos, salientando-se; entretanto, que, mesmo assim, seus lucros serão muitos altos. Agora, o pequeno e o médio comerciantes irão ter uma queda muito grande, não por prejuízo; mas, por não ter condições financeiras de suportar a alta rotatividade que o comércio vai exigir. Ainda mais, o pequeno e o médio negócio sem alta rotatividade, não terão condições de acumulação de capital na empresa e garantir a sobrevivência da família de seu proprietário.

Com este ponto de vista, só quem sobrevive serão os grandes monopólios do setor comercial, como o grupo Bom Preço, o Jumbo, o Pão de Açúcar, que têm capital suficiente, para bancar os preços que levarão provavelmente à falência a maioria dos pequenos e médios negócios do país. O povo deve tomar consciência do que seja monopólio; pois, um grande grupo tomando conta do comércio, significa uma perda inestimável para o consumidor, que terá produto de má qualidade, preços cobrados acima das possibilidades da população que consome, cuja política comercial se for ditada por estes grandes trustes, os menores entrarão em falência. Deve-se mostrar a toda nação brasileira, que não se deixe enganar pelo efeito demonstração que é a base da psicologia comercial do capitalismo desumano.

Inegavelmente, no curto prazo, esses pacotes tiveram efeitos de suma importância, quando conseguiram baixar os preços e manterem-nos crescendo numa taxa mais moderada. Este é um ganho fundamental, para que em primeira instância, houvesse a credibilidade de todos os setores da economia e, em segundo lugar, também é importante, tendo em vista que, se a população tivesse consciência de sua força, não deixaria que os monopólios dominassem o sistema econômico. Dá para sentir que o setor comercial teve sua participação quanto ao suportar as pressões do setor produtivo e/ou da intermediação. Com este medidor constatam-se as diversas reações que os agentes econômicos podem ter, desde uma atuação cartelizada a uma participação política mais intensiva junto às autoridades brasileiras.

Com isto, conseguiu-se também, que os consumidores brasileiros, participassem mais ativamente da política do país e isto foi muito bom, porque retirou do marasmo, toda esta gente que sentia e via, os maiores absurdos, sendo praticados dentro da economia nacional, e não podia dizer nada, devido o arcabouço jurídico-militar favorecer a esses entulhos, que tanto massacraram o povo sofrido da nação brasileira. Agora, o governo apostou alto e o povo já pode denunciar e ser ouvido. Não se acabará a especulação; mas, quem especular, vai pensar duas vezes para fazê-la, porque o vício de muitos anos não se acaba de um dia para o outro; entretanto, ficou mais difícil ao atravessador obter uma rentabilidade ao nível daquela que vinha tendo, usando como prerrogativa a inflação para explorar a classe trabalhadora do país.

O setor comercial sente de perto, porque é lá onde acontecem as negociações, onde flui o dinheiro e o processo de barganha tem a sua prática. Excesso de demanda é caracterizado pelo aumento de preços e excesso de oferta, rapidamente aparece diminuição de preço, devido a busca de competição, ou de vender mais, isto significa dizer, o turn over tende a ser cada vez maior. Contudo, sabedor do poder de monopolização que tem, fica difícil de que o mercado oriente bem os preços competitivos, mas fica sempre ao bel prazer do empresário hedonista e egoísta querer ditar as suas normas e determinar o preço que lhe convém. É claro que uma economia estabilizada oferece mais condições do comércio funcionar respondendo aos desejos dos empresários e dos consumidores; porém, num sistema onde quem manda é o poder oligopolista, não há condições de que um simples pacote venha reajustar a economia.

Resumindo toda esta problemática, o comércio se ressente com uma economia inflacionada, como também não é bom que o sistema econômico viva num regime de deflação. O necessário e suficiente, é que a economia caminhe sempre dentro do princípio da estabilidade, do ajuste e da igualdade em todos os níveis. Preços altos retraem comércio, que tem que abrir linhas de crédito, procurar todos os meios de facilidades, onde o consumidor possa participar da comercialização. A abertura de créditos também traz alguns problemas que se devem levar em consideração; pois, os crediários, quais sejam de lojas, quais sejam de mercearias, levam o consumidor a ter uma renda real que não existe e se não for bem coordenada, pode trazer problemas maiores. Portanto, sem sombra de dúvida, o comercio é o termômetro da situação econômica de um país, tanto do ponto de vista de que se a economia vai bem, como se ela vai mal dentro de uma livre competição.

Finalmente, não há como separar o setor comercial dos efeitos que os pacotes econômicos oferecem à economia. Um pacote que contemple um reajuste econômico perfeito, que beneficie a indústria, a agricultura e o setor de serviços, contemplará também o setor comercial de qualquer nação. Todavia, é sempre bom investigar quais os pontos atingidos pelos pacotes que a economia tem presenciado, para que o comércio possa suportar os desajustes que, se o pacote não for aceito, como sobressair a tais situações. O setor comercial comporta uma alta taxa de empregados e lida com taxas de juros, com crediários e com as variações de preços dos produtos, quer sejam substitutos, ou complementares; pois, estas variáveis são importantes para que qualquer pacote dê certo. O bom mesmo é que as autoridades econômicas não lançassem pacotes; entretanto, procurassem implementar um programa econômico, onde todos os setores da economia fossem atingidos de igual por igual.