Este texto forma parte del libro
Memorias de Economia
de Luis Gonzaga da Sousa
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CRISE BRASILEIRA: UMA SAÍDA

 

 

 

A economia brasileira tem enfrentado crises após crises, e as mais freqüentes possíveis, até que os economistas do governo têm se preocupado, não mais com as crises em si, mas com o processo de estagnação da inflação, como coisa que a inflação fosse causa e não efeito de tal dinâmica econômica. A inflação é o termômetro da economia, considerando que esta decorre de desequilíbrios internos no sistema econômico, ou simplesmente decorrente de desajustes importados do resto do mundo, quer dizer, originários de perturbações existentes nas economias internacionais. Os desajustes internos de uma Nação, que têm como causa os desequilíbrios internacionais, não têm condições de serem resolvidos dentro de uma terapia somente doméstica; todavia, deve-se esperar que o resto do mundo se equilibre para iniciar o processo de ajuste na economia nacional que está desajustada.

Ora, quando os desajustes são provocados dentro do sistema econômico, o tratamento muda de figura e deve-se partir para utilizar todos os instrumentos necessários para tentar conter as patologias existentes no contexto das ramificações econômicas, isto significa dizer, cortar os males pela raiz. Este tipo de raciocínio é correto, porque não se pode sanar determinada doença aplicando remédios à doença em si; contudo, é necessário que se vá às causas que deram origem a ela e isto não se tem feito nas economias periféricas e, em especial, ao caso brasileiro que é o que se está analisando. No Brasil existe a questão do desemprego, cujas autoridades econômicas do governo tentam sanar esta questão, simplesmente pelo lado de forçar os empresários a empregarem mais mão-de-obra, onde em verdade, a questão não é esta.

No mesmo nível de raciocínio, se no país existe um outro problema, por hipótese, a falta de mercadorias, os sábios homens do governo procuram um caminho que obrigue o bom suprimento do mercado que é oligopolizado, e, quase sempre fazem as importações desnecessárias na busca de que a demanda seja imediatamente suprida, pois este tipo de medida não condiz com uma política de deliberação participativa entre empresários e consumidores, e desta forma, a livre inter-relação entre os próprios empresários não funciona, causando distúrbios maiores na economia. Isto tem acontecido no Brasil desde longas datas. Além do mais, os consumidores não têm participado do processo de barganha em um mercado livre, tendo em vista que o próprio freio que a concorrência recebe, reflete diretamente naqueles que deveriam também participar do processo da luta competitiva.

Neste contexto, pode-se facilmente levantar diversas questões de fundamental importância na resolução dos problemas nacionais, sem mexer nos resultados de todo processo de atuação da economia interna, inter-relacionada com as demais estruturas de vivência social. Daí surgem as seguintes perguntas: como resolver a questão do desemprego nacional brasileiro que, cada vez mais se avoluma nas grandes cidades e, em especial, no campo? Como atacar o problema da falta de investimento que é tão patente na estrutura econômica do país, sobrevivendo com um capital ou tecnologia com mais de cinqüenta anos de importações de países centrais? Como resolver as dificuldades enfrentadas pelas universidades, quanto à capacitação do capital humano sem ter que ir buscar em países longínquos a tecnologia necessária ao desenvolvimento do parque industrial local?

Não se conseguirá jamais, resolver a questão do desemprego, simplesmente pela força da Constituição, nem forçando aos empresários a ocupar a mão-de-obra desempregada, com simples negociação para uma diminuição de impostos ou qualquer ameaça aos oligopólios dominadores da economia nacional. Para tal, é preciso mudar as relações de capital/trabalho, para que se consiga, dentro da liberdade de mercado, um nível de conscientização tal que os incrementos de investimentos comecem a surgir. Isto só será conseguido quando se mexer nas estruturas básicas do sistema econômico, onde o capitalista abdique da sua ganância de exploração da mão-de-obra excedente na economia local. Pois é este excedente que proporciona ao sistema de poder, condições para pagar o preço do trabalho que lhe convier e, desta forma, continuam as dificuldades sociais e as crises peculiares na economia brasileira.

Entretanto, quanto à questão dos investimentos nacionais, esta caminha pari passu com o problema do desemprego; pois, como é sabido, o nível de investimento do país é muito baixo e, em especial, quando se fala em investimentos diretos, considerando que é mais vantajoso para os investidores, as aplicações no mercado aberto que está muito bem favorecido pela inflação. O nível de investimento está situado em mais ou menos 18% ao ano, incluindo nesta cifra, aplicações em capital físico já superado ao longo do tempo, assim como uma taxa de reposição para manter o parque industrial que existe desde a década de cinqüenta. As autoridades econômicas devem estruturar a economia num prisma que dinamize mais o setor de beneficiamento da economia, a tal ponto que, o prioritário sejam os investimentos diretos e não os setores improdutivos da Nação que são os mais beneficiados na atualidade.

A questão dos investimentos brasileiros, parte de um problema maior que é o das universidades ou das escolas que geram a mão-de-obra especializada; que criam tecnologias para a dinamização da economia; que destram os trabalhadores do setor industrial; do setor agrícola; e, do setor de serviços para aumentar a sua produtividade. Este investimento é conhecido como aplicações em capital humano e que hoje em dia, tem contribuído para a consolidação do capitalismo, pelo menos para que as crises constantes sejam menos freqüentes no mundo ocidental hodierno e, em especial, no Brasil. Na nação brasileira, o investimento em capital humano não tem tido a atenção que se deveria receber, tendo em vista a formação da própria classe empresarial que busca única e exclusivamente, o ganancioso maior rendimento que nem sempre coincide com o lucro máximo e a educação fica sem sentido.

É inegável que o investimento em capital humano traz um retorno muito alto, para quem injeta de maneira eficientes, compatíveis somas de recursos no setor produtivo. Compatíveis porque uma aplicação em excesso conduz quase sempre a uma tecnologia intelectual sem aplicabilidade, quer dizer, têm-se gastos com aperfeiçoamento de pessoal em tecnologias modernas e, em verdade, o processo produtivo não comporta aquela massa de conhecimento, ou até mesmo a maquinaria física moderna na dinâmica da economia. A destreza da mão-de-obra deve ser bem utilizada; pois, do contrário, as perdas podem ser maiores e, no caso brasileiro, tem acontecido isto com freqüência. Como se vê, as universidades brasileiras criam novas tecnologias; mas, sem condições de aplicação e, em algumas, até mesmo não tem formas de como fomentar as tecnologias regionais por falta de possibilidades financeiras.

Os princípios básicos para o bom desempenho da economia brasileira são a austeridade a princípio. Austeridade no sentido de rigidez na aplicação dos recursos sociais quais sejam privados, ou quer seja do Estado, pois as empresas estatais do Brasil, não trabalham eficientemente. As empresas privadas, por outro lado, já denotam uma certa preocupação na alocação dos recursos da empresa e conseguem uma certa racionalidade no desenvolvimento empresarial. Já o Estado, atrelado ao princípio do clientelismo, do empreguismo e da ineficiência administrativa, não consegue um bom resultado na dinâmica do andamento das empresas estatais e o resultado é a cooperação para a crise. Uma limpeza nas empresas do Estado faria com que a economia funcionasse melhor; pois o número de funcionários excedentes e incapacitados é muito grande, prejudicando o bom andamento das empresas estatais.

Para a economia brasileira como um todo, as autoridades governamentais devem tomar decisões firmes no sentido de que todos os três setores da economia trabalhem harmonicamente, pois qualquer desajuste que aconteça em um dos setores deve ser imediatamente acompanhado com medidas punitivas com objetivo de rapidamente conseguir o balanceamento do todo econômico, de maneira austera e competente. As medidas que o governo deve tomar, não significam que sejam única e exclusivamente punitivas, podem ser de subsídios, de tal maneira que um subsídio ou incentivo, faça dinamizar a economia e não atrasar, como é o caso de incentivos que têm a meta única de concentrar em favor do capital privado que é quem sempre sai ganhando no processo como um todo. Não se deve apadrinhar pequeno, micro, ou médio empresário; mas, qualquer setor que precise de se desenvolver para ajudar o sistema econômico, do país ao progresso.

De maneira racional e eficiente, o governo brasileiro tem a grande tarefa de eliminar o déficit público, se quiser por a economia nacional em ordem. Pois não se pode dinamizar a economia brasileira se as autoridades governamentais estão envolvidas com o déficit da magnitude da que se presencia no Brasil. Sabe-se que é uma medida difícil, mas tem que se tomar uma posição para que a coisa não tome as proporções de crises maiores das que o país atravessa, podendo-se citar como exemplo de descalabro nacional os níveis de desproporções salariais e isto dentro da mesma profissão e fora dela. É costume observar os famosos marajás do Estado, com salários que superam muitas vezes até mesmo o salário do Presidente da República. Um outro disparate é também a escala salarial geral por alguns servidores públicos, onde se verifica servente de emprego público federal ganhar mais do que pessoal de nível superior a nível nacional, estadual e até mesmo municipal.

Estar se precisando de uma nova política salarial onde se deve haver uma escala de salários, tanto no setor público, como no setor privado, pois se continuar o que está aí, ninguém quer ir para o setor privado, mas ficar no setor público federal, onde está se pagando de forma justa e eqüitativa. Propõe-se como uma das soluções para a economia brasileira uma eliminação dos índices de indexação geral, só que o governo terá a obrigação de exercer uma fiscalização eficiente àqueles que querem abusar das regras da dinâmica econômica. Finalmente, há um ponto importante que tem tido pouca preocupação pelo governo, é a questão do incentivo rural a quem realmente precisa; e não incentivar agricultores que querem sustentar a sua campanha política, ou seus políticos. Portanto, só desta forma, é que se poderá conseguir organizar a economia nacional, na busca de se lograr começar dinamizá-la sem desigualdade de renda; ficar de olho nos oligopólios; e, sobretudo, ultrapassar as crises sistêmicas que alimentam as diferenças sociais.