Este texto forma parte del libro
Ensaios de Economia
de Luis Gonzaga da Sousa
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A TEORIA DA INCERTEZA

 

 

 

A economia moderna está constituída de fragmentos isolados, e auto-evolutivos que geram as desigualdades, as impurezas do sistema econômico, e as individualidades que formam as acumulações, e as concentrações que levam às incertezas da economia como um todo. Não se pode negar que se gostaria de que a economia se movimentasse dentro da ótica da competição perfeita, onde houvesse liberdade de atuação para todos, onde houvesse pleno conhecimento de mercado, e onde o preço fosse determinado pela inter-relação de forças mercadológicas. Essa idéia teve a boa vontade dos teoristas que estudaram a economia, de algum tempo passado, e talvez ela se desenvolvesse um pouco parecida com uma estrutura deste tipo; porém, eles resolveram apresentar um sistema econômico que fosse perfeitamente bem organizado, que servisse de exemplo para economias do futuro, que deveriam caminhar pela trilha da perfeição.

Os pressupostos da competição perfeita talvez sejam sonhos que alguns teoristas tiveram, quando trabalhando no sentido de explicar o sistema econômico como um todo, ou as relações que envolvem a economia interligada com a sociologia, a história, a geografia, e algumas outras ciências sociais. Valeu o sonho, pois, dentro deste prisma, os agentes econômicos teriam perfeito conhecimento de mercado, quanto a preço das mercadorias, quanto a qualidade do produto, e quanto ao peso e confecção do bem que estaria à disposição dos consumidores, aptos para o seu consumo final. A este princípio, diz-se que o consumidor é um sujeito racional, do mesmo modo, prenuncia-se que esta economia está pautada numa estrutura de perfeição que tem como meta fundamental a certeza, onde qualquer desajuste no sistema econômico, seria rapidamente equilibrado pela própria inter-relação de forças competitivas da economia.

Os clássicos esqueceram que para o seu futuro, a economia não teria a mínima condição de caminhar tal como eles previram e que diante das desigualdades dos agentes econômicos, o processo de acumulação geraria a competição espúria, onde cada agente econômico estaria diante de um jogo tal como descreveram John Von NEUMAN e Oscar MORGENSTERN (1943). Para DAVIS (1973)[1],

os jogos de uma só pessoa são, fora de qualquer dúvida, os de tipo mais simples, pelo menos conceitualmente ã tão simples, em verdade, que alguns autores não os consideram jogos. Em jogos de uma só pessoa, é conveniente encarar a natureza como sendo outra pessoa. Assim, jogos de uma só pessoa constituem-se realmente, em jogos contra a natureza. Claro está que a natureza difere do homem no sentido de que não se pode antecipar-lhe a forma de agir, através de uma penetração em suas intenções, pois ela é completamente desinteressada.

Sem sombra de dúvida, o jogo está presente em todos os instantes no processo de decisão econômica do ser humano, e deve ser encarado como tal, ao considerar que todo mundo se depara com escolhas reais neste mundo.

Alem do mais, complementa DAVIS[2] ao mostrar um exemplo interessante de suas investigações sobe a teoria dos jogos, quando explicita que

o varejista dispunha de 20 compradores potenciais: quatro se dispunham a pagar $ 11 por um item, oito pagariam $ 12 e outros oito concordariam em pagar $ 13. A negociação sempre assumia a forma seguinte: o atacadista começava por fixar um preço e esse preço permanecia inalterado; uma vez estabelecido, não podia ser reduzido, nem mesmo com o consentimento do próprio atacadista. A partir daí, o varejista decidia quantos itens desejava comprar por aquele preço. Com essa decisão, a transição se encerrava e cada um dos jogadores conservava o lucro que houvesse conseguido. Não era permitido que os jogadores se encontrassem ou trocassem mensagens.

Isto mostra o caráter do jogo em que está submetido cada comerciante, que participa de uma competição imperfeita na busca de sua maximização possível, em todos os sentidos.

Ao se pensar em forma de experimento, e fazendo repetições no jogo, os resultados se mostram diferentes, como diz DAVIS (1973)[3], quando explica em seus estudos que

quando o jogo era disputado repetidamente, surgia uma significativa diferença. O varejista continuava a ter apenas duas saídas de que se utilizar contra um atacadista ambicioso, mas agora, sua recusa de cooperação cumpria um novo propósito de educar o atacadista, no sentido de que reduzisse seus preços no futuro. Conquanto o varejista continuasse a sofrer uma perda imediata, isso encontrava compensação na perspectiva de vantagens futuras maiores. Em razão do maior poder de negociação do varejista, quando da disputa repetida do jogo, o experimentador antecipou que haveria uma tendência mais forte para abandonar o ponto bowley, em tal situação, do jogo era disputado apenas uma vez.

Daí, no comércio varejista, as opções de escolha de decisão são bem maiores do que em outros setores; portanto, conhecer as estratégias dos jogadores é fundamental nos trabalhos cotidianos do setor comércio.

Numa economia imperfeitamente competitiva, ou como é conhecida normalmente de oligopolista, que muito mais fácil é entender esta realidade, como uma situação de atuação de monopólio, não pelo número de atuantes na economia; mas, pela formação de grupos unificando as decisões, quando praticam as mesmas políticas de monopolismo. Nesta situação de individualismo, de egoísmo, e de ganância, na busca de sua maior atuação, com maior venda, com maior lucro, e com maior dominação, pode-se pensar que este sistema econômico vive num clima de jogo, cujos participantes, devem e têm obrigação de conhecer as regras desta contenda, para procurar os melhores lances para não levar a pior. Por este ângulo, a economia não tem a mínima condição de viver numa estrutura bem organizada, num sistema auto-regulável; mas, em um meio de insegurança, incorrendo riscos, e pautada na incerteza.

Ao investigar a questão da incerteza numa economia, verificam-se diversos trabalhos de grande envergadura, para se ter uma real compreensão do termo, e diante de uma decisão que envolva a incerteza, poder-se adentrar com uma margem de segurança conveniente para decisão com sucesso. No meio de tantos estudos sobre o assunto MALANOS (1972)[4] explica que

a contribuição de Hawley-Knight é muito significativa, uma vez que estabelece explicitamente a natureza da função empresarial. Não soluciona, porém, plenamente a questão, pois não relaciona analiticamente a incerteza com a existência do lucro. Se a incerteza for comensurável, então os lucros poderiam ser talvez considerados como recompensa das diferentes quantidades de riscos assumidos. Mas, exatamente como no caso da utilidade, no caso do risco assumido não foi jamais descoberta uma unidade de medida e deve-se mais uma vez recorrer a uma tentativa ordinal.

Entrementes, a habilidade empresarial, com sua visão de competição eficiente, e de futuro, atenua a possibilidade de que o futuro seja, na verdade, essa incógnita que amedronta os investidores à aplicação de seus recursos em um empreendimento que tenha um jogo claro quando aos seus riscos.

Diante disso, o empresário passa a ser um instrumento importante na tomada de decisão numa economia, especificamente numa empresa, que deve alocar seus recursos em forma de investimentos produtivos; e, além do mais, em uma economia cheia de impurezas, que proporciona evasões, ou má circulação das mercadorias, que possa ser eficiente. Em verdade, o empresário dever ser criador (inventor) e inovador, considerando a competição intensiva em que estão envolvidos, e a própria necessidade de atingir o consumidor final com o seu produto, que tem o objetivo fundamental de ir ao encontro daqueles que os desejam. Nesse contexto, o empresário se envolve com riscos e dificuldades, que devem ser supridas com a habilidade daquele que tem o poder de decisão; não obstante, buscando sempre o lucro, ou pelo menos no curto prazo, a sobrevivência de sua empresa que só se moverá eficientemente se obtiver lucros suficientes para tal.

Ao se pautar neste tipo de pensamento, próprio de um sistema oligopolizado, é que ALCHIAN (1982)[5] coloca com clareza que

a incerteza fornece, em geral, uma excelente razão para que se limite o êxito observado. Também explica a observada uniformidade entre os sobreviventes, decorrente de um sistema competitivo, evolucionário e adotante, em que vige um critério de sobrevivência capaz de atuar independentemente das motivações individuais. O comportamento adaptativo, via imitação e inovação e o critério de sobrevivência da economia determina os imitadores bem sucedidos - bem sucedido, talvez, justamente porque imitadores imperfeitos. A imitação também deflui de ação conscientemente voluntária - seja qual for a motivação subjacente - uma vez que a ação drástica é provocada pela esperança de alcançar grande êxito, assim como pelo desejo de evitar iminente fracasso.

Todavia, a incerteza ser um dos problemas que a economia imperfeita enfrenta com bastante espreita e dificuldade, em vista de nunca se ter idéia de como as coisas ocorrem no futuro, daí o aparecimento de concentrações, investimentos em inovações tecnológicas, e outras formas de minorar a incerteza de seus negócios. 

Pelo exposto, observa-se que a incerteza é quem explica o sucesso ou não do empresário, que estando nas mesmas condições com os demais, tem o poder de criar e inovar para sobressair com sua empresa, que caminha dentro de uma estrutura de crise, e de boom; pois, gerenciar uma empresa numa economia sem incerteza e sem riscos, não há como evidenciar a habilidade empresarial. Quanto mais a economia vive num clima de incertezas e riscos, mais o empresário deve mostrar a sua capacidade de administrar os recursos escassos que lhe são disponíveis, e que devem proporcionar retornos suficientes para acumulação e sucesso em seu empreendimento. Para tanto, vale a visão empresarial, o poder de decisão e, sobretudo, a consciência de sua capacidade nas investidas que conduzam a empresa ao progresso sem ter que usar meios espúrios na dinâmica de sua gradativa evolução.

O objetivo principal do empresário é buscar lucros, conseguir mais mercados, proporcionar um maior turn over às vendas das mercadorias produzidas, e conseguir um maior sucesso para a empresa que dirige. Os partidários de uma economia bem comportada levantam a hipótese de que o empresário busca a maximização dos lucros da atividade econômica, cujo resultado já se tem comprovação de que esta hipótese já está fora de cogitação, considerando que as imperfeições de mercado não demandam este tipo de raciocínio. O fato é que as impurezas de mercado levam a acumulação desigual às concentrações e, conseqüentemente, não existem condições de que a maximização dos lucros seja o objetivo principal; mas, um objetivo a se perseguir, sem esquecer que o importante é a sobrevivência do agente econômico, de tal maneira que o interesse é a participação no mercado de qualquer forma.

Ao ser claro de que o mundo econômico vive num clima de incerteza, de riscos, e de sobrevivência a qualquer custo, nada é mais importante do que entender o jogo em que se encontra cada participante do mercado, ao se verificar a inter-relação de forças entre os participantes e a vigilância em que todos se encontram. Neste sentido, KNIGHT (1921)[6] explica que

a incerteza deve ser tomada num sentido radicalmante distinto da noção familiar de risco, da qual nunca foi adequadamente distinta. Parecerá que uma incerteza mensurável, ou risco propriamente dito, como usaremos o termo, é tão diferente de uma imensurável, que na realidade não é uma incerteza. Restringir-se-á, portanto, o termo incerteza a casos do tipo não quantitativo.

Contudo, disso se sente a dificuldade que este termo carrega ao longo de sua história, para melhor se determinarem as condições reais da inter-relação de forças, entre os agentes econômicos que interagem na economia.

Não se pode, dentro de uma economia imperfeita, pautada num clima de incerteza quanto à aplicação de seus investimentos e quanto à viabilidade de seus negócios que estão sendo efetivados, é lidar com uma atividade que não tenha riscos, que não esteja numa escuridão quanto ao futuro. Com tudo isto, coloca HAWLEY (1890)[7] a sua posição com muita firmeza quanto a estes pontos claramente levantados,

pois não deve esquecer que o caso em que o empresário não arrisca seus próprios vencimentos de administração é muito mais raro do que o caso em que não expõe ao risco nenhuma parte de seu próprio capital, e é impossível imaginar um homem que não faça nem uma coisa nem outra como empresário, pois a única maneira de escapar do último risco é o coordenador se transformar num funcionário assalariado.

Com este propósito, numa economia imperfeita os riscos são muito grandes, e devem ser enfrentados, como provado por TOBIN que diz que quanto maior o risco, mais se consegue sucesso; portanto, crescimento que culminará com desenvolvimento econômico e social.

As palavras de HAWLEY conduzem o agente econômico à decisão de que, ou ele corre o risco dentro do princípio da incerteza, ao aplicar o seu capital disponível em uma atividade industrial, ou em uma movimentação de negócio, ou ele deve partir para o escravismo do assalariamento. Como assalariado não existe a preocupação de riscos quanto à aplicação de seu capital, conseqüentemente, não há incerteza de quanto se vai ganhar no final de cada período de trabalho, porque o que se deve ganhar é o que se encontra em seu contrato de trabalho. Já quanto ao empresário que se depara com riscos, com incertezas, ou com futuro nebuloso, as preocupações são muitas, a começar com um sistema inflacionário, ou não; com o nível de competição em que está envolvido, e quanto à percepção em que os seus competidores assumem diante de uma luta pela sobrevivência econômica e social.

Finalmente, as teorias que trabalham com um sistema econômico que assume a incerteza como um elemento de fundamental importância dentro da competição moderna, devem ter muito cuidado em seus planejamentos ao longo de seu trabalho de expansão, considerando as obscuridades que a economia oferece. Cientificamente, a teoria da incerteza é muito difícil e complicada, pela própria sistematização dos apanhados históricos e empíricos, que foram levantados, e pela própria mutação em que está envolvido, cada agente econômico que luta pela sua sobrevivência. Por isso, é preciso mais pesquisas, mais simulações, e mais discussões sobre a questão dos riscos, das impurezas no mercado e, por conseqüência, das incertezas que o futuro levanta sobre a realidade de quem investe somas de seus recursos, com objetivo de acumulação e concentração de riqueza, para beneficiar a humanidade, e se locupletar com seu poder hegemônico sobre os demais participantes da economia nacional.


 

[1] DAVIS, Morton D.. Teoria dos Jogos: Uma Introdução não Técnica. São Paulo, CULTRIX, 1973, p. 21.

[2] DAVIS, Morton D.. Teoria dos Jogos: Uma Introdução não Técnica. São Paulo, CULTRIX, 1973,  p. 126.

[3] DAVIS, Morton D.. Teoria dos Jogos: Uma Introdução não Técnica. São Paulo, CULTRIX, 1973, pp. 131-132.

[4] MALANOS, G. Teoria Econômica. Rio de Janeiro, FORUM, 1972, p. 404.

[5] ALCHIAN, Armen A  Incerteza, Evolução e Teoria Econômica.  Rio de Janeiro, MULTIPLIC, Ano II, No. 7, Ago. 1982, p. 262. 

[6] KNIGHT, F.  Risk, Uncertainty, and Profit. Boston: Hougton-Miffin Co., 1921, Reeditado pela Escola de Economia de Londres. 1933, p. 20.

[7] HAWLEY, F. B. The Risk Theory of Profit. Quarterly Journal of Economics, Vol. VII, 1890, pp. 464-465.