Síntese das Entrevistas Qualitativas sobre o Acordo de Basiléia II

 

Tendo como propósito elevar o nível de compreensão sobre a percepção dos especialistas na área de gestão de risco operacional, em particular sobre o acordo de Basiléia II, realizamos quatro entrevistas qualitativas com dirigentes e ex-dirigentes de instituições financeiras privadas e públicas, no mês de dezembro de 2004. Dessas entrevistas destacamos o seguinte:

 

i. O acordo de Basiléia II é aceito como um avanço por todos os entrevistados. Afirma ainda existir várias dificuldades de caráter micro e macroeconômico. Os novos procedimentos de cálculo, por exemplo, exigirão que as instituições financeiras utilizem sistemas de informação de alta qualidade, que possibilitem o desenvolvimento e posterior acompanhamento e revisão de seus modelos de mensuração de risco. A obtenção desta maior acurácia é vista como uma tarefa difícil. No aspecto macroeconômico destaca-se a preocupação sobre o alcance e o impacto que o novo acordo pode ter sobre o volume e a volatilidade dos fluxos de capital para as economias emergentes[1].

 

ii. O tema da acentuação da pró-ciclicalidade dos sistemas financeiros, para a metade dos entrevistados deve ser mais aprofundado. Não é possível sustentar que a aproximação entre capital regulamentar e capital econômico irá ampliar esses movimentos, ou seja, que as reservas exigidas das instituições financeiras tenderiam a aumentar em períodos de retração da economia. Verifica-se que as instituições financeiras mais evoluídas - que utilizam instrumental mais sofisticado de avaliação de riscos - já atuam dessa forma.    

 

iii. Os dirigentes das instituições financeiras entrevistadas entendem que o risco operacional deve ser visto e tratado como uma categoria de risco diferenciada. Para os entrevistados é importante incrementar a utilização de ferramentas quantitativas na gestão do risco operacional.

 

iv. Existe um quase consenso de que as instituições financeiras terão enormes dificuldades para realizar o cálculo de capital para risco operacional. Para ser calculado de maneira adequada, as instituições necessitariam  de dados consistentes e da existência de um benchmark.

 

v. O atendimento ao órgão regulador, sob a ótica dos entrevistados, não será uma prioridade para as instituições financeiras. A área de risco operacional deve priorizar a prevenção do risco de perdas inesperadas.

 

vi. A implementação adequada do acordo de Basiléia II no Brasil, no que se refere aos seus aspectos institucionais, ainda precisa evoluir significativamente em termos de produção de informações e análises econométricas, bem como de elevação de proteção aos direitos do credor.

 

vii. Para uma parcela dos entrevistados, com a entrada em vigor do Basiléia II, é essencial que as instituições financeiras brasileiras adotem medidas para minimizar o percentual de alocação de capital e de reduzir as perdas operacionais. Recomendam que as instituições bancárias brasileiras, em particular as de grande porte,  devem atentar para:

a). A necessidade de ajustar a grade de eventos de risco do Anexo 7 do Acordo de Basiléia, sob a ótica do Manual de Supervisão Bancária e orientações dos CP - Consultive Papers do Financial Services Authority - UK, na grade de eventos de risco do BBA – British Bankers Association, levando em consideração, também, os cases onde foram aplicadas as melhores práticas;

b) Os procedimentos de estruturação do inventário de identificação de riscos, com a finalidade de tornar a grade de eventos de risco operacional adequada à empresa, estimar a probabilidade de sua ocorrência e as conseqüências financeiras, a partir do enfoque do gestor, para viabilizar a criação das Matrizes de Risco das suas unidades; e,

c) A importância de proceder à conciliação das contas e eventos contábeis.


 

[1] As entrevistas foram apoiadas, em grande parte, nos expositores do Seminário Implementação de Basiléia II no Brasil, FEBRABAN, São Paulo, 8 de novembro de 2004. Registramos, em especial, os nossos agradecimentos aos especialistas que expuseram suas idéias no painel “Experiência de implementação de Basiléia II de instituições dos EUA e Europa”, coordenado por Daniel Gleizer (2004a).

 


enero 2005
"Contribuciones a la Economía" es una revista académica con el
Número Internacional Normalizado de Publicaciones Seriadas
ISSN 16968360

José Matias-Pereira
Gestão do Risco Operacional
Uma Avaliação do Novo Acordo de Capitais- Basiléia